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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

RELATO LINO ROJAS - Suani Corrêa

“A GENTE FAZ TEATRO PRA LIBERTAR”

De 5 a 14 de novembro de 2010, estive em São Paulo, para acompanhar de perto a 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, um dos mais importantes eventos desta modalidade teatral do cenário nacional. A mostra é idealizada e realizada pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo – MTR/SP.
Desde a minha participação no 7º Encontro dos articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua, ocorrido em maio, na cidade de Canoas/RS, em que ouvi falar sobre a mostra Lino Rojas, fiz todos os esforços para estar presente, pela importância que a mostra parecia ter - e tem! - frente às discussões sobre o fazer artístico-político do Teatro de Rua no Brasil. E também para enriquecer muito mais meu olhar; alargar meus horizontes de artista-articuladora amazônida. E assim consegui estar presente, aproveitando o embalo da minha participação no VI Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa em Artes Cênicas – ABRACE, na UNESP .
Nessa 5ª edição, a Lino Rojas homenageou um dos mais importantes movimentos populares do Brasil: O Movimento de Teatro Popular de Pernambuco – MTP/PE, com 25 anos de existência, que procura levar o questionamento e a reflexão à população e aos gestores públicos com relação aos grupos de teatro popular. Aliás, o título deste meu relato é um verso de uma loa entoada pelo grupo Teamu & Companhia, durante o espetáculo Êta vida. Resolvi “pegá-la emprestada”, pois, a meu ver, traduziu (e traduz) muito bem o sentimento que se instaurou durante os dias da Lino Rojas: libertação. O artista de rua, o Teatro de Rua faz teatro para libertar!

Tive oportunidade de reencontrar amigos e de fazer muitos outros. Vi e ouvi muito sobre Teatro de Rua, resistência, compromisso, criação, processos, política, liberdade... E isso, somado as minhas experiências anteriores, me fez compreender, cada vez mais, a luta pela arte de rua, tanto no plano artístico, estético quanto político. E não há uma fórmula exata, precisa para esse fazer. Por isso não devemos entrar no campo do “certo ou errado” ao falar, descrever, criticar este ou aquele espetáculo.
Aliás, posso dizer que a 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas buscou e apresentou uma diversidade cultura e teatral enorme. O Brasil se fez presente de norte a sul do país na capital paulista. Era grupo de Porto Alegre, Curitiba, Belém, Brasília, vários grupos de Pernambuco, São José dos Campos, Santos, Campinas, Sorocaba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e alguns da cidade de São Paulo mesmo. Quanto teatreiro de rua esteve presente, “passeando” pelo universo da cultura popular, do misticismo, do circo - com palhaços, acrobacias e malabarismo -, dos marginalizados etc. Além disso, foi interessante perceber grupos que pensam que, além de fazer teatro, devem desenvolver ações políticas com a comunidade em que estão inseridos; para outros o próprio fazer teatral já é uma ação política.
Um dos momentos mais emocionantes para mim durante a Lino Rojas foi durante o debate após o espetáculo Homem, Cavalo e Sociedade Anônima da Cia. Estável de Teatro de São Paulo, em que apresenta situações sobre trabalho, moradia e consumo, mostrando a figura do homem animalizado e explorado. O espetáculo foi apresentado em um albergue chamado Arsenal da Esperança. Pois é... Quando comecei a ouvir as histórias dos albergados, relatadas por eles mesmos, que estavam ali presentes, falando do preconceito que sofriam e os “malabarismos” que faziam para sobreviver no mundo capitalista como o nosso. Coração apertou ao ouvir o relato de um paranaense, que estava ali para tentar mudar sua história de vida... Mas como se ele era um albergado! Enfim... A volta para o hotel, naquela noite, não foi tranquila... Foi a primeira vez que eu estivera num albergue.
Em outros momentos, me peguei atenta ao público. Ás vezes até perdia o desenrolar das cenas, pois estava observando a plateia, que esteve atenta e participativa durante os espetáculos. Vi muitos risos. Mas também vi algumas lágrimas. Não sei se de alegria ou de tristeza; talvez estavam lavando a alma daquele transeunte que muitas vezes estava só de passagem, voltando ou indo para o trabalho, para casa. Porém algo lhe tocou, lhe atraiu e lá, nas praças, na rua, ficou. Isto aconteceu durante o cortejo-espetáculo A Guerrilha do Bom Humor do Esquadrão da Vida (Brasília), em que os atores-músicos-acrobatas fizeram com que muitas pessoas parassem e os acompanhassem, mesmo sem caminhar junto, pois esse acompanhar se estabeleceu pelo olhar. Notei e todos notaram que várias pessoas apareciam nas janelas de seus apartamentos e acompanhavam as canções, as trovas e o colorido do grupo brasiliense.


Está sendo muito gratificante participar de momentos e eventos como este. E foi muito importante está presente na 5ª mostra de Teatro de Rua Lino Rojas para ver, acompanhar e perceber de perto a expressividade e força do MTR/SP. Assim, no papel de artista-articuladora da RBTR e da Rede Teatro da Floresta, vou ampliando os horizontes e o olhar sobre o meu trabalho, sobre meu grupo e sobre a arte e as políticas públicas de minha cidade. Além da possibilidade de contribuir com as discussões sobre o Teatro de Rua no Brasil.


Obrigada a todos do MTR/SP pela acolhida!
Bjs,
Suani Corrêa
Integrante do grupo Palhaços Trovadores – Belém /PA
Artista-articuladora da RBTR e da Rede Teatro da Floresta