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sábado, 31 de março de 2007

Overdose de Teatro de Rua

OVERDOSE DE TEATRO DE RUA
I Overdose de Teatro de Rua - Buraco d`Oráculo - Foto: arquivo do grupo

Material de I Overdose - Criação: Maurício Santana
III Overdose de Teatro de Rua - Cia Vate Katarse - Foto: Augusto Paiva


A Overdose de Teatro de Rua é uma ação política e artística do MTR/SP e vem sendo realizada desde 2003. Já foram realizadas três: 03 de novembro de 2003, 28 e 29 junho de 2004, 29 de maio de 2006. Aguardem pois vem mais Overdose por aí!



sexta-feira, 30 de março de 2007

Carta Aberta do MTR/SP

APRESENTA


CARTA ABERTA DO MTR/SP


O Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo agrega diferentes grupos e companhias de teatro de rua, pensadores e afins que visam a construção de políticas púbicas permanentes que garantam a continuidade de pesquisa, produção e circulação do teatro de rua nessa cidade.

O Movimento propõe ações que possibilitam o desenvolvimento de reflexões sobre o teatro de rua em âmbito nacional, bem como sobre sua relação com a cidade.

Os integrantes do movimento de teatro de rua da cidade de São Paulo defendem a valorização do espaço público aberto como local de criação, expressão e encontro, compreendendo que assim esse espaço torna-se ambiente propício à ampliação da cidadania de quem com ele se relaciona.

São Paulo, 29 de maio de 2006

Movimento de Teatro de Rua de São Paulo: da provocação a organização

Lançamento da Ação Cultural Se Essa Rua Fosse Minha - Largo do Cambuci - 2002


O histórico que ora apresento, em primeira pessoa, porque estou partindo do meu ponto de vista, visa traçar a gênese e a trajetória do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR), procurando demonstrar como se deu o seu nascimento e sua organização de 2002 a 2006.

Em 2001 a Cooperativa Paulista de Teatro convocou o então diretor do Departamento de Teatro Celso Frateschi, para uma conversa sobre teatro de rua. O objetivo era solicitar do Poder Público a atenção para essa linguagem. A reunião foi confusa e não havia unanimidade sobre as reivindicações. Pedia-se praças estruturadas com banheiros, pontos de luz e camarins; criação de um circuito pelas praças; edital etc.

Entre os presentes apenas alguns se conheciam pessoalmente, no entanto, não conheciam o trabalho um do outro e apenas esporadicamente, devido às dificuldades, esses grupos iam as ruas para apresentarem seus espetáculos. Em dado momento, vendo-se pressionado Frateschi questiona: “São Paulo não tem grupos de teatro de rua. Quais são os grupos que fazem teatro de rua em São Paulo?” A reprodução da fala talvez não seja igual, mas seu sentido sim. O fato é que nos calou. Claro que existia grupos de teatro de rua em São Paulo, mas não tínhamos como provar, já que muitos não confeccionavam materiais gráficos e além disso eram ignorados pela mídia, não saindo em nenhuma programação cultural, simplesmente realizavam seus trabalhos. Ainda hoje existem grupos que assim o fazem. Naquele momento nos revelamos frágeis diante do Poder Público.

Estava feita a provocação. Alguns grupos começaram a se falar e passado algum tempo, começaram a buscar uma maneira de organizarem-se politicamente. Foi assim que nasceu a Ação Cultural Se Essa Rua Fosse Minha, que reuniu sete grupos que atuavam pela cidade de São Paulo. Os grupos eram: Abacirco, Bonecos Urbanos, Buraco d`Oráculo, Circo Navegador, Farândola Troupe, Monocirco e Pavanelli. A Ação foi lançada no dia 03 de agosto de 2002 no Largo do Cambuci, bairro escolhido pela Farândola Troupe. O lançamento reuniu quarenta artistas que fizeram um cortejo pela Avenida Lins de Vasconcelos. Depois do “lançamento” o grupo cumpriu uma temporada no Largo do Cambuci, o que deveria ocorrer com os demais, isto é, cada grupo cumpriria uma temporada no local escolhido.

Combinou-se que cada grupo receberia seu “lançamento”, que dava-se através de um cortejo com todos os grupos do Se Essa Rua Fosse Minha, através da “Parada Espetacular.” Esta era uma maneira de chamar a atenção da mídia e do poder público para o teatro de rua. Na verdade alguns grupos já atuavam em algumas regiões, é o caso, por exemplo, do Bonecos Urbanos que a seis anos já atuava dentro do Parque da Água Branca. O Buraco d`Oráculo ficou muito tempo na estação Brás realizando temporadas, depois com o Se Essa Rua Fosse Minha mudou seu local de atuação para São Miguel Paulista. Diversos objetivos faziam parte dessa ação, entre eles a democratização do teatro, estreitar os laços com as comunidades envolvidas, criar um circuito de teatro de rua e lançar um novo olhar sobre o espaço público aberto.

No dia 31 de agosto foi o lançamento da Cia Pavanelli, hoje Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, fizemos um cortejo pela Avenida Tucuruvi até a praça onde seria realizada a temporada. No dia 21 de setembro foi a vez de São Miguel receber um cortejo pela Avenida Marechal Tito com muitos artistas e um público de mais de sessenta pessoas que acompanharam o cortejo até a Praça do Forró, onde o grupo Buraco d`Oráculo estreou seu espetáculo “O Cuscuz Fedegoso” e desde então vem atuando em São Miguel e região. Em outubro daquele ano, mesmo já estando a muito tempo no Parque da água Branca, fizemos o lançamento do Bonecos Urbanos, ainda em outubro, lançamos o Abacirco no Parque Vila Lobos, em novembro o Monocirco no Jardim São Paulo e em dezembro o último grupo a ser “lançado” foi o Circo navegador.

A Ação Cultural Se Essa Rua Fosse Minha realizou ainda um encontro entre os grupos para possibilitar que se conhecesse o trabalho e a rotina um do outro, uma troca de experiência. Ainda assim o Se Essa Rua Fosse Minha teve problemas e não resistiu, em menos de um ano todos aqueles objetivos foram deixados de lado. Mas alguns grupos continuaram atuando em seus locais: o Buraco d`Oráculo em São Miguel, A Cia Pavanelli no Tucuruvi, o Bonecos Urbanos no Parque da Água Branca e a Farândola Troupe no Cambuci.

Os sete grupos chamaram a atenção para o teatro de rua e mostraram a importância de estarem organizados. Exatamente um ano depois, em agosto de 2003, realizou-se o I Seminário de Teatro de Rua de São Paulo no Barracão Cultural Pavanelli. O Seminário foi, de certo modo, o pontapé inicial para a organização do Movimento de Teatro de Rua, pois naquele momento não havia nenhuma organização, apenas vontade por parte de algumas pessoas.

Estiveram presentes no I Seminário doze grupos e um palestrante: João Carlos Andreazza, que teve como tema o “Teatro de Rua: estética e linguagem. Sua importância na metrópole.” Alguns dos grupos participantes faziam parte do Se Essa Rua Fosse Minha. A programação incluiu os seguintes grupos: Abacirco e Rodamoinho (11/08/03), Tablado de Arruar e Pombas Urbanas (18/08/03), Bonecos Urbanos e Farândola Troupe (25/08/03), Circo Navegador e Cia Pavanelli (01/09/03), Teatro Vento Forte e Grupo Manifesta de Arte Cômica (08/09/03) e ManiCômicos e Buraco d`Oráculo (15/09/03). Debateram sobre seus problemas, suas estéticas e lançaram também muitas idéias. Depois da realização foi entregue uma carta ao Departamento de Teatro da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, comandado na época por Kil Abreu. Devido a falta de apóio e de verba, o material deste Seminário está aguardando para ser publicado, sua não publicação faz com que se perca parte da memória do teatro paulista.

Uma das idéias lançadas no I Seminário foi a realização de uma mostra intensa no centro da cidade, mas que não ficasse na mostra pura e simplesmente, mas que fosse também um ato político. Nasceu, então, a Overdose de Teatro de Rua, que ocorreu no dia 03 de novembro de 2003 das 10:00 às 17:30 horas no Boulevard da Avenida São João e no Vale do Anhangabaú simultaneamente. Participaram dessa mostra/ato quinze grupos: Circo Navegador, Manicômicos, Cia Pavanelli, Cia Monocirco, Os Itinerantes, Bonecos Urbanos, Tablado de Arruar, Cia do Miolo (estes no Boulevard), Grupo Manifesta de Arte Cômica, Abacirco, Cia Rodamoinho, Farândola Troupe, Cia Fola Folia, Buraco d`Oráculo e Cia de Rocokóz (estes no Vale do Anhangabaú).

Depois da realização a I Overdose de Teatro de Rua os grupos passaram a reunir-se regularmente e deram-lhe o nome de Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP), com reuniões abertas a qualquer grupo, pensador etc., que quisesse contribuir com a discussão sobre este fazer teatral. A luta política também se acirrou, principalmente com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. O Movimento passou a lutar pela criação de um circuito permanente que englobasse as cinco regiões de São Paulo, além de editais ou leis que contemplasse as especificidades do teatro de rua.

Entendendo que cabe ao Estado fomentar a cultura o MTR chamou à atenção do poder público, isso gerou alguns mal-entendidos, naquele momento achavam que queríamos rachar a classe teatral, quando na verdade queríamos apenas demonstrar que existiam muitos grupos de teatro de rua em São Paulo e que, os mesmos, tinham suas especificidades de pesquisa, produção e estética e necessitavam de um, ou vários programas que abarcassem essas diferenças. Muito havia mudado desde a provocação do Frateschi, ou seja, o teatro de rua não podia mais ser ignorado. Travamos contato com outros movimentos do Brasil, como o da Bahia e o Movimento de Teatro Popular de Pernambuco (MTP-PE), ampliando nossas discussões e passando a compreender a luta também fora de São Paulo.

Em 2004 nos dias 28 e 29 de junho o MTR realizou a 2ª Overdose de Teatro de Rua no Boulevard da Avenida São João que teve a participação de dezoito grupos. No dia 28 apresentou-se Circo Navegador, Manicômicos, Cia Rodamoinho, Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, Cia de Rocokóz, Algazarra Teatral, Circo de Trapo, Teatro de Epifanias; no dia 29 apresentaram-se no Boulevard Manifesta de Arte Cômica, Teatro da Pateticidade, Ivo 60, Cia Monocirco, Bonecos Urbanos, Buraco d`Oráculo, Cia da Carapulsa, Os Itinerantes, Cia Fola Folia e Teatro Popular União e Olho Vivo. Na seqüência, em julho, realizou-se o II Seminário de Teatro de Rua e teve a seguinte programação: Alexandre Mate (06/07/04 – Panorama Histórico do Teatro de Rua), Reinaldo Maia e Ednaldo Freire (13/07/04 – Dramaturgia), Luiz Carlos Moreira, Deputado Vicente Cândido, Vereadora Tita Dias , Vereador Nabil Bonduki e Celso Frateschi – que faltou e não justificou sua ausência (20/07/04 – O Teatro de Rua e Políticas Culturais), Teatro Popular União e Olho Vivo (representado por dois membros do grupo: Cícero Almeida e Oswaldo Ribeiro) e Iná Camargo (27/07/04 – Função Social do Teatro de Rua) e o encerramento com Amir Haddad, que falou de sua larga experiência com a rua. Todo o material do II Seminário também está aguardando para ser publicado.

Ainda em 2004 o MTR realizou a I Temporada de Teatro de Rua de São Paulo na Praça do Patriarca, procurando fazer do mesmo, um local permanente para as apresentações do teatro de rua. Em 2005 o MTR negociou um edital público de circulação de teatro de rua e a publicação do material dos dois seminários. Quanto ao edital, o próprio MTR elaborou os pontos que gostaria de ver no mesmo e a SMC, através do Senhor Carlos Moraes Sartini encaminhou ao jurídico que fez uma minuta. O edital deveria ter saído em outubro de 2005 e até agora não veio a público. Como forma de cobrança o MTR é que foi às ruas mais uma vez, em maio de 2006, mas precisamente no dia 29, e lançou sua CARTA ABERTA na 3ª Overdose de Teatro de Rua, uma realização do mesmo MTR – que dessa vez ocorreu na Praça do Patriarca, local indicado como ponto das apresentações no edital. A 3ª Overdose contou com a participação de dezenove grupos, numa maratona teatral de mais de doze horas de programação. Participaram por ordem de apresentação: Teatro Ruante, Cia Trapy de Circo e Teatro, Teatro Popular União e Olho Vivo, Cia Raso da Catarina, Grupo Manifesta de Arte Cômica, Escola Livre de Teatro, Cia Abacirco, Cia Vate Katarse, Troupe Saltim, Cia de Rocokóz, Mamulengo da Fulia, Cia Monocirco, Coletivo Teatral Commune, Buraco d`Oráculo, Teatro da Pateticidade, Cia Carapulsa, Algazarra Teatral, Os Itinerantes e o Galpão do Clã. Durante todo o dia foi lido a CARTA ABERTA e cobrado o edital prometido no ano passado.

Ainda em 2006 o MTR participou do II Fórum Artístico realizado pela Cooperativa Paulista de Teatro. No Fórum estiveram presente representantes dos Movimentos da Bahia e de Pernambuco, além de fazedores como Chico Pelúcio (Galpão), Tiche Viana (Barracão), Grupo Oi Nòis Aqui Travez etc.

Ainda em 2006, mas precisamente em setembro, o MTR realizou em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura a 1ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, primeira ação realizada com recursos. O Diretor do Departamento de Expansão Cultural, Rubéns Moura, topou realizar o que propusemos. A Mostra propriamente contou com a participação de vinte grupos escolhidos por edital público, isto é, não foram apenas os grupos do Movimento que foram contemplados, mas o teatro de rua da cidade de São Paulo. Os grupos foram os seguintes: dia 26/09/2006 – Galpão do Clã, Cia dos Inventivos, Tablado de Arruar, Abacirco, Cia Vate Katarse; dia 27/09/2006 – Grupo Manifesta de Arte Cômica, Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, Mamulengo da Fulia, Cia do Miolo, Cia Raso da Catarina; dia 28/09/2006 – Circo Navegador, Los Patos, Farândola Troupe, IVO 60, Cia do Feijão e; dia 29/09/2006 – Cia Teatral ManiCômicos, Algazarra Teatral, Cia Circo de Trapo, Coletivo Teatral Commune e Buraco d`Oráculo. Todas as apresentações deram-se na Praça do Patriarca, centro de São Paulo.

A 1ª Mostra contou ainda com uma exposição fotográfica das Overdoses anteriores, intitulada “Filhos da Rua: que os deuses estejam conosco”. As fotos eram do fotógrafo Augusto Paiva e foram expostas na Galeria Olido e no Centro Cultural Arte em Construção. A Abertura no dia 25 de setembro foi um seminário intitulado “Políticas Públicas para o Teatro de Rua”, com presença do poder público e da sociedade civil. Poder público: Rubéns Moura – SMC e Hélvio Tamoi – FUNARTE; Sociedade Civil: Ney Piacentinny – Arte Contra a Barbárie e Cooperativa Paulista de Teatro, César Vieira – Teatro Popular União e Olho Vivo, Ilo Krugli – Teatro Vento Forte e mediação da jornalista Marici Salomão.

A 1ª Mostra homenageou o dramaturgo e diretor peruano Lino Rojas fundador do Pombas Urbanas. A homenagem e o encerramento foram feitas na Cidade Tiradentes através de um cortejo pela rua daquele bairro com presença de muitos participantes da Mostra além da população do bairro.

Entendo que até o momento não alcançamos nossos objetivos principais, no entanto, não mais se poderá falar que não há grupos de teatro de rua em São Paulo, pode-se até não se conhecer a todos, posto que muitos atuam nos bairros, de forma descentralizada. Mas a linguagem teatral feita ao ar livre na atualidade não é mais uma desconhecida, isso, graças ao crescente número de grupos que tem ganhado as ruas e praças e a sua organização política na luta por programas públicos de cultura que garantam sua continuidade.

O MTR ainda reúne-se regularmente para discutir suas ações e está aberto a todos os interessados que queiram discutir e unir forças em torno do teatro de rua.

Adailton Alves